~~ Luz.~~


Forcei e abri os olhos. A luz me cegou um pouco, mas eu precisava saber. Precisava saber quem estava ali. E então, notei o quanto estava enganada.
Não era ele quem estava ali, ao meu lado, cuidando de mim, e tão pouco era o meu marido.

"Mandei não abrir..."

A voz dele estava diferente e ficando cada vez pior e eu, agora, entendia o que estava acontecendo. A voz dele estava assim por causa de um zumbido constante dentro do meu ouvido.
Tudo que ouvia estava assim, mudado, bizarro. Estranhamente grosso e errôneo.
Meus olhos encontraram os dele, mais negros do que eu me lembrava de já os ter visto alguma vez na vida, e aquele pensamento besta e sem motivo me arrancou um sorriso. Fraco.
Me sentia indo para o paraíso. Não estava bem preocupada em saber o que tinha acontecido sabe? E veja bem, não é que eu quisesse morrer. Não, não gostava de suicidas. Apenas que naquele momento, naquele leito de hospital eu encontrara uma paz que nunca encontrara antes na vida.
Eu estava fraca, morrendo sabe-se-lá de quê, com tontura, a visão embaçando, mas, meu leito de morte até que estava muito melhor do que eu jamais havia imaginado, quando por vezes imaginava minha morte sempre me imaginava sozinha, numa cama de hospital, com o fígado num estado tão deplorável que nem mesmo Hannibal quereria comê-lo.

"Oi..."

Minha voz estava agora ainda mais fraca e ridícula e eu encarei meu companheiro de bar coçar a barba desgostoso, levantando-se da cadeira ao lado do meu leito e gritando por mais médicos.
Era ele afinal... O único capaz de me perdoar, o único capaz de me entender, o único que estava ali para assistir a minha morte.

Eu queria saber mais dele, se estava bem, se ficaria bem. Ele estava comigo no bar, e ainda assim, enquanto eu estava atirada num leito sem nem saber mais o que era em cima e o que era embaixo, ele já estava de pé, firme como um touro, cuidando de mim.
Ele ficaria bem, eu esperava... E embora eu naquele instante quisesse cuidar dele, minhas forças começavam a se esvair.
Meus olhos se fecharam sem minha permissão. Eu queria vê-lo mais. E aos poucos senti o ar começar à me faltar. Lentamente.
É, aquilo não era como ir para o paraíso. Era como ser sufocada por uma enchurrada de mágoa que eu não conseguia explicar, e muito menos, naquela situação, me livrar.

Eu ouvi quando os médicos invadiram meu quarto, e pude sentir quando começaram a mexer em mim. Eu podia sentir os olhos preocupados dele sob mim.

E então, sendo ele a última coisa que passou minha mente, apaguei de novo...

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