~~ Aliança ~~

O homem diante de mim me mirou por um instante e senti quando o que estava do meu lado me puxou contra ele escondendo meu rosto pálido e gelado em seu peito másculo e cheiroso. Minhas mãos gelaram enquanto o homem que me abraçava mirava o outro com uma expressão superior.
Do outro lado do corredor estava ele, meu marido. Junto dele , uma jovem que não deveria sequer ter saído do colegial ainda, cabelos castanhos claros, quase loiros, olhos cor de mel. Ela me encarou com uma expressão orgulhosa, eu podia ler em sua testa o orgulho de fazer uma mulher mais velha se esconder dela, porém, meu orgulho ferido de leoa rugiu dentro de mim.
Eu? Me esconder de uma pirralhinha que mal menstruara? Eu? Que acompanhava um dos caras mais ricos, mais bonitos, mais charmosos, e mais... Bom, mais tudo do mundo? Haha.. Ela iria ter de engolir o fato de eu estar com o rei do mundo e ela com aquele velho barrigudo.
Apertei a mão firme de meu chefe e olhei em sua face de protetor, que transformou-se num sorriso superior e elegante, tomei a frente e fui abraçada por ele, os braços fortes a envolverem minha cintura fina, me permitindo uma risada esnobe.
Dessa vez foi o rato, digo, meu marido, que puxou a ratinha dele para trás de si, e saiu correndo por um corredor.
Uff... Suspirei, e senti quando o abraço dele tornou-se um apoio para mim, que agora sorria de alívio enquanto ele sussurrava em meu ouvido e olhava minha aliança.
"Ele não merece dividir isso com você..."
Eu olhei-o e senti uma das mãos dele soltar minha cintura para envolver minha mão e encarar o anel ali.
"Uma aliança tão linda quanto a mulher que a usa..."
E foi então que mais uma vez derreti em seus braços sentindo os lábios dele contra os meus.

~~ Shopping ~~

Quando dei por mim estava já do lado de fora da lamborghini.
Meu terninho feminino todo meio amassado, o batom vermelho borrado, as mãos trêmulas.
A luz já havia voltado e ele agora sorria para mim um sorriso cúmplice, as mãos fortes e grandes a alegremente tocarem as minhas, que ainda tremiam, e puxar-me para junto de seu corpo forte, que agora sabia eu que era de uma perfeição invejável.

Não demorou muito para meu corpo, ainda mais leve que o normal, ir de encontro ao dele. As mãos, envolveram as minahs e levaram-nas aos seus lábios, fazendo-me corar ao vê-lo dar tantos selinhos dóceis sobre meus dedos curtos, de unhas longas.
"Você fica absolutamente bela quando fica assim.. Corada..."
Ele riu, aparentemente havia notado meu desconcerto, que sumira ao ouvir mais uma vez a voz aveludada dele a melar meus ouvidos de tão doce que era.
Apenas pude sorrir e agradecer, deixando-me tomar por seus braços fortes e ser levada por eles para dentro do shopping, onde as lojas, a maioria já fechada, me davam a impressão de tudo aquilo ser nosso, e assim, eu podia desfilar ao lado dele, sem medir minhas ações impulsivas e por vezes até mesmo infantis, de rir baixo, sussurrar minhas opniões em seu ouvido e mostrar lhe a língua quando ele discordava de algo, criando uma esfera alegre ao nosso redor enquanto andávamos pelo shopping aparentemente vazio...
Digo aparentemente porque não demorou muito para o vermos...

~~ Vaga ~~

Ele riu, um riso aparentemente sínico como quem pensa em dizer algo ofensivo mas deixa de lado. Eu apenas o olhei, mas, dentro do carro era iluminado apenas pelas luzes do painel, insuficientes para eu poder vê-lo perfeitamente, então, apenas ri baixo e apoiei-me melhor no banco da lamborghini.
"Acho que ficamos sem almoço."
Ele riu mais uma vez, de fato, sem luz, não nos restavam muitas opções de restaurante, demorei um pouco até pensar no restaurante japonês que havia ali, era caro, e eu sequer sabia se ele gostava de comida japonesa, ainda sim, eu sugeri.
Ele demorou-se um pouco, parecendo pensar na hipótese, acendendo os faróis da Lamborghini e guiando-a cuidadosamente pelos corredores de carros até encontrar duas, uma ao lado da outra, parando no meio das duas para evitar qualquer tipo de problema causado pelos demais motoristas.
Não o culpava, o carro era belo demais para ser riscado ou amassado, não se podia confiar em "outros motoristas" e de fato, as vagas eram muito apertadas.
Ele então apagou os faróis e deu um suspiro.
"Não tenho nada contra restaurantes japoneses não... Mas, não quer esperar? Quem sabe o blecaute acabe e eu possa te levar aonde estava planejando?"
Eu sorri, sem jeito, ele estava planejando? Então vai ver era por isso que deixara eu ocupar minha mente na lamborghini o caminho todo e foi quando fui virar para ele, curiosa por saber quais eram seus planos que tive algo morno e macio em meus lábios, calando-me. Não lutei, naquele escuro reconfortante não haveria mal algum certo?
E então, fechei meus olhos, como se isso fosse mesmo necessário, retribuindo, deixando que a Lamborghini ocupasse o espaço daquelas vagas de forma gentil, elegante e inebriantemente poderosa.

~~ Blecaute ~~

"Ah... Meu..."

Foi tudo que eu consegui dizer naquele momento, quando me esqueci de respirar e o pouco ar que havia em meus pulmões foi pouco, fazendo-me engasgar e tossir um pouco.

Ele riu, não ouvi barulho algum, mas, sabia com certeza absoluta que ele ria, me restando apenas rir sem jeito e virar-me para ele ainda boquiaberta, corada e um tanto quanto bestificada.

"Aquela...."
"Sim, é meu carro... Que bom encontrar uma mulher que o aprecie."

Por um segundo voltei a olhar a lamborghini...

"É... É linda..."
"Ela? Ah, bem, claro, pode ser feminino também..."

Ele pareceu um pouco confuso conforme eu me referia ao carro como "ela". Mas, oras, claro! A Lamborghini! Quer dizer.. O Lamborghini não ficava tão mal assim mas... Não... Carros bonitos têm de ser mulheres. E com nomes bonitos.
Talvez a idéia houvesse penetrado minha mente enquanto assistia incessantemente ao filme 60 segundos somente para apreciar os carros e óbviamente o Nicholas Cage com cara de bobo ao levar um "olé" da Angelina Jolie.

Bom, então voltando, saímos do elevador e caminhamos juntos, tal qual um casal animado, até a belíssima Lamborghini, onde ele me abriu a porta, fechando-a após minha entrada e depois andou até o banco do motorista, logo dando a partida e fazendo o motor roncar alto.
Saímos cantando pneu e soltando fumaça, já entrando na rua principal, onde diversos carros abriam caminho para que ela desfilasse rápida e elegante por entre eles.

O caminho foi silencioso, também, eu observava o interior de couro negro e branco como uma afccionada, quem dera isso fosse mentira, mas, não era, não havia como negar o meu fascínio por carros daquele porte. Antes mesmo que notasse, já entrávamos no estacionamento do Shopping mais chique, e caro, da cidade.
Não me importei, enquanto a maioria dos casais da firma gastava dinheiro pagando os melhores hotéis, motéis, restaurantes e viagens que pudessem aproveitar à dois, minha vida resumia-se ao trabalho e ao bar onde ia para ouvir a velha banda de Jazz.
Dinheiro não me era algo que faltava, ainda mais com a quantidade que ganhava, o necessário para sustentar a família inexistente que acreditávamos todos que eu teria. Mas, ele apenas sorriu ao me ver tentando ver o valor do estacionamento e guardou o cartão no bolso.

"Nada disso."

Disse ele e eu logo entendi que aquele era um daqueles tipos de convite onde o convidado nada paga. Eu sorri, que mais poderia fazer?
Logo ele foi guiando a Lamborghini para um dos subsolos, e foi quando ele terminou de descer a rampa que o barulho veio.

"PAH! Zmm! Pah! Pum! Tah!"

E logo estávamos imersos pelo mais fundo escuro causado pelo blecaute. O sol talvez pudesse nos iluminar se não estivéssemos no subsolo 4 ou mais, eu não contara, onde agora estava completamente escuro.

~~ Lamborghini ~~

E seguimos assim calmamente andares abaixo enquanto eu permanecia corada e calada com ele a me segurar pela cintura, oras, mas é claro, à cada olhada dos demais funcionários para o homem na minha diagonal eu corava mais.

Não é que estivesse desconfortável, na verdade, estava era bastante confortável, ele é muito bonito...
Cabelos castanhos claro, quase cor de mel, curtos e bagunçados levemente, olhos azuis, barba curta, unida ao bigode, ambos com não mais de 2mm. Tinha uma expressão séria, madura, sarcástica, definitivamente perigosa.
O perigo em sua presença constatou-se quando, eu notei que embora os funcionários lhe lançassem olhares curiosos, nenhum deles lhe dirigiu a palavra.

Fiquei imaginando se ele era mesma tão fatal quando eu ouvira todos do meu setor dizerem, dúvido. Um homem fatal não me seguraria de uma forma tão agradável... Ou, vai ver, era justamente por ser fatal e perigoso que eu estava gostando daquilo.
Finalmente o elevador chegou ao térreo e ele me segurou para que esperasse junto dele dentro do elevador. Tentei fugir mais uma vez, quando ele estava vazio, mas, ele me segurou novamente, apertando o botão da garagem.

"Ora, vamos de carro. Esse shopping é tão lotado de gente da empresa.. Você viu como são fofoqueiros."

Não tive como negar...
Não que eu quisesse!
Não!
Em hipótese nenhuma, mas, era obrigada à concordar que ignorar, ou melhor, fingir ignorar o patrão mor do local tão claramente, de certo, não era a melhor forma de arranjar um aumento. Concordei, claro e ele sorriu um sorriso tão prazeiroso quanto sarcástico.

"Ah! Que ótimo!"

E então, voltamos a ficar sozinhos no elevador enquanto descíamos ao mais baixo nível de garagem, aonde ficavam somente os carros dos diretores dos andares, e, quão não foi minha surpresa quando notei que metade das vagas, (óbviamente muito mais que as necessárias num prédio de somente 23 andares) estavam completamente fazias, com somente um carro no meio delas.
A estonteante Lamborghini Gallardo Nera ocupava 2 vagas, espaçosa e bela, com a belíssima pintura negra refletindo as luzes artificiais do estacionamento.

Parei na porta do elevador e olhei para ele.
Me pretendia levar à algum lugar "naquilo"?
Naquele carro eu iria até o inferno ou mais longe... Para onde ele quisesse.

~~ Andar ~~

Bem, então... Veja bem...
Foi assim que comecei a minha explicação quando o homem diante de mim, já dentro do elevador me encarou.
Ele me olhava de cima abaixo como se avaliasse se minha vestimenta era mesmo adequada ao horário de trabalho, e não demorou muito à frase vir.

"Você fica bonita assim."

Veja bem, chefe, eu estou em meu horário de almoço e.. Quê?!?!??! O lado bom disso tudo é que quando abri os lábios só cheguei até a parte do chefe, onde então sorri um sorriso bobo como um cão a ser acariciado pelo dono e deu uma risadinha baixa.

"Muito Obrigada."

Ele ria, provávelmente notou que eu iria me explicar quando era desnecessário.
A porta do elevador abriu e eu já ia saindo, desconcertada, quando ele segurou em minha cintura e me puxou de volta, de forma sútil, apesar da força dele e de forma quase imperceptível. Demorei a entender o porquê.

"Acalme-se, só descemos 1 andar, se está indo almoçar, creio que vá descer no térreo, certo?

Porque não almoça comigo?"
Eu fiquei paralisada por alguns segundos, pensando se tudo aquilo era real, era difícil o dono da empresa aparecer nesse prédio, eu nunca o havia visto pessoalmente, aquilo era mesmo impossível...
Mas, não era, vi claramente que não quando o grupo do andar de baixo entrou no elevador e ficou a admirar a presença onipotente do homem atrás de mim, que não havia ainda largado minha cintura.

Eu merecia, certo?

Afinal, sempre fora uma ótima funcionária, e.. Bem, aqueles dois da sala ao lado da minha iriam chupar bem todo o orgulho deles ao me ver andando com o dono da empresa certo?
Então nem pensei mais, virei meu rosto ao dele com o mais belo dos sorrisos que pude desembolsar e fiz que sim com a cabeça, sussurrando baixo um "Claro!" à ele.

~~ O Dono ~~

Após muito custo e muito ignorar, eu finalmente consegui.

Horário de almoço, hora de arrancar a parte de cima do terno, abrir 2 ou 3 botões de minha blusa social e sair para desfilar no shopping que ficava ao lado do trabalho com aquele decote impressionante e natural que eu tinha.

Claro, não vou negar, ele, junto de minhas coxas e.. Bem, minhas curvas, se vocês cá me entendem eram as coisas das quais eu mais me orgulhava na vida e por um motivo bem simples: Elas eram lindas.
E pouco me importava se o cara da sala ao lado não estava interessado nelas, pois eu tinha muito bem quem se interessasse!
E assim foi, sem perder tempo, me lancei da cadeira, sai da minha sala, fechei a porta e andei até o corredor, já sem a parte superior do terno feminino, apenas ainda com minha camisa social fechada.

Desfilei pelo corredor com o auge de minha auto-estima, rosto elevado, nariz empinado, seios mostrando do que eram feitos e num segundo todo o mal-humor tinha passado quando senti todos os outros homens do departamento quase caindo de suas cadeiras ao me ver passar, mas, mal sabia eu, ao sair de minha sala o que me esperava ao entrar no elevador, quando entrei e olhei para o lado lá estava ele...
Seguindo a ordem dos dominós, o mais alto e maior deles...
O dono da empresa.