~ Sino ~

Infelizmente a parte feliz do meu dia acaba aqui.
Embora nada mais de ruim tenha me acontecido até dar meu horário de saída, estar tão alegre e elétrica e ter de ficar sentada na frente daquele computador fazendo absolutamente nada me frustrava.
A falta de serviço, de ocupação e de companhia permitia à minha mente viajar aos mais distantes pontos de fuga.
Fiquei imaginando que horas ele iria sair, ou se estava em alguma reunião, ou se não estaria exercendo seu papel de macho alpha na mesa de outras mulheres... NÃO!
Definitivamente não! Se ele havia escolhido ser o macho alpha quer dizer que tinha de ser inatingível para a maioria.. Como todo macho alpha!
Isso! Esse macho alpha haveria de ser inatingível para todas só não para mim! E o motivo era simples, porque eu era a melhor!

BLÉÉÉM!!!!

O maldito do sino da igreja que ficava à várias quadras dali tocou bem no momento do meu ápice de ego, me causando outro susto e me fazendo acordar na cadeira apertando diversos botões do teclado que iniciaram algum tipo de ajuda para inicantes no Windows, que infelizmente, não importava o quanto eu clicasse no exit, não fechava.
Mas, tanto fazia, o sino anunciava que eram 16 horas, horas das pessoas irem para a igreja e eu, sair do trabalho e ir me ocupar em algo mais agradável.
Joguei a parte superior do terninho feminino sobre meu oubro direito e sai andando na direção do elevador. Pensei em esperá-lo próxima da Lamborghini, mas, tinha preguiça demais de ir até lá sem saber onde ele estaria, sendo assim, resolvi ir primeiro ao térreo perguntar ao homem da guarita sobre ele.

~~ Corredor ~~

Vou ser sinceros com vocês... Eu amo comer, em geral me agrada muito.. Me faz feliz e tudo o mais... Porém! Não me lembro de nada, sequer me lembro de que restaurante comi, ou se era comida japonesa ou italiana, ou qualquer outro tipo de culinária. só me lembro de sentir os olhos dele em meu rosto o tempo todo, até me deixar corada e de depois isso eu me vingar, forçando-o a ficar com os lábios pelo meu rosto todo como antes.
Só me lembro que quando cheguei no trabalho, quando entrei no elevador com ele dei de cara mais uma vez com a loira da minha chefe.
Ela chegou a levantar aquel indicador esquelético e bruxento pra mim, porém, ao ver quem estava ao meu lado, apenas calou a boca e virou-se de lado. Eu sorri à ele e ele à mim, e fim. Ele me deixou em meu andar e seguiu o caminho.
O perfume dele ainda estava preso em minhas vestes e pude ignorar perfeitamente quando o cãozinho-da-chefe-de-prédio passou por mim.
Acredito que ele sentiu falta de não ser o sol de todas as mulheres, mas, teria de conviver com isso agora. Meu sol era o dono da empresa, e acredito que ambos, eu e ele acreditávamos que poderíamos continuar assim por algum tempo.

~~ Alto-Falante ~~

Antes mesmo que eu pudesse sentir falta do ar que eu atribuía ao beijo com ele a voz do alto falante me fez dar um salto para a frente.
"Atenção senhores clientes, lamentamos informar mas a sessão de entretenimento somente voltara aos serviços apartir das 18 horas. A sessão de alimentação já deve estar voltando ao seu funcionamento e lojas voltaram a seu funcionamento normal apartir do horário de seu desejo.
Lamentamos o inconveniente e desejamos uma boa tarde."
Corei. Sentia minhas maças do rosto vermelhas e quase latejantes, que susto. O que estaria ele pensando de uma funcionária baixinha que saltava de susto com alto-falantes?
Ri sem jeito enquanto sentia uma parte de minha franja sair do lugar com aquele salto, que tolice... Foi quando senti a mão dele a envolver meu rosto, seus dedos grandes a tentarem sem sucesso ajeitarem os fios finíssimos atrás de minha orelha alva. A expressão dele era hilária, como se quele fosse o maior desafio da humanidade.
"Que difícil.. Não sei como vocês conseguem com tamanha facilidade..."
Eu ri, ele era realmente perfeito, uma descontração era o que eu estava precisando...
"Anos de prática creio..."
Eu respondi sorridente ajeitando a franja enquanto a mão dele agora segurava a minha e beijava-lhe as costas de forma gentil.
"Vamos ao almoço então...?"
Era tarde e eu estava atrasada para o trabalho, mas, como negar aquele homem diante de mim com sua presença esmagadora e imponente? Sendo assim, apenas concordei, e deixei que ele me levasse à praça de alimentação.

~~ Aliança ~~

O homem diante de mim me mirou por um instante e senti quando o que estava do meu lado me puxou contra ele escondendo meu rosto pálido e gelado em seu peito másculo e cheiroso. Minhas mãos gelaram enquanto o homem que me abraçava mirava o outro com uma expressão superior.
Do outro lado do corredor estava ele, meu marido. Junto dele , uma jovem que não deveria sequer ter saído do colegial ainda, cabelos castanhos claros, quase loiros, olhos cor de mel. Ela me encarou com uma expressão orgulhosa, eu podia ler em sua testa o orgulho de fazer uma mulher mais velha se esconder dela, porém, meu orgulho ferido de leoa rugiu dentro de mim.
Eu? Me esconder de uma pirralhinha que mal menstruara? Eu? Que acompanhava um dos caras mais ricos, mais bonitos, mais charmosos, e mais... Bom, mais tudo do mundo? Haha.. Ela iria ter de engolir o fato de eu estar com o rei do mundo e ela com aquele velho barrigudo.
Apertei a mão firme de meu chefe e olhei em sua face de protetor, que transformou-se num sorriso superior e elegante, tomei a frente e fui abraçada por ele, os braços fortes a envolverem minha cintura fina, me permitindo uma risada esnobe.
Dessa vez foi o rato, digo, meu marido, que puxou a ratinha dele para trás de si, e saiu correndo por um corredor.
Uff... Suspirei, e senti quando o abraço dele tornou-se um apoio para mim, que agora sorria de alívio enquanto ele sussurrava em meu ouvido e olhava minha aliança.
"Ele não merece dividir isso com você..."
Eu olhei-o e senti uma das mãos dele soltar minha cintura para envolver minha mão e encarar o anel ali.
"Uma aliança tão linda quanto a mulher que a usa..."
E foi então que mais uma vez derreti em seus braços sentindo os lábios dele contra os meus.

~~ Shopping ~~

Quando dei por mim estava já do lado de fora da lamborghini.
Meu terninho feminino todo meio amassado, o batom vermelho borrado, as mãos trêmulas.
A luz já havia voltado e ele agora sorria para mim um sorriso cúmplice, as mãos fortes e grandes a alegremente tocarem as minhas, que ainda tremiam, e puxar-me para junto de seu corpo forte, que agora sabia eu que era de uma perfeição invejável.

Não demorou muito para meu corpo, ainda mais leve que o normal, ir de encontro ao dele. As mãos, envolveram as minahs e levaram-nas aos seus lábios, fazendo-me corar ao vê-lo dar tantos selinhos dóceis sobre meus dedos curtos, de unhas longas.
"Você fica absolutamente bela quando fica assim.. Corada..."
Ele riu, aparentemente havia notado meu desconcerto, que sumira ao ouvir mais uma vez a voz aveludada dele a melar meus ouvidos de tão doce que era.
Apenas pude sorrir e agradecer, deixando-me tomar por seus braços fortes e ser levada por eles para dentro do shopping, onde as lojas, a maioria já fechada, me davam a impressão de tudo aquilo ser nosso, e assim, eu podia desfilar ao lado dele, sem medir minhas ações impulsivas e por vezes até mesmo infantis, de rir baixo, sussurrar minhas opniões em seu ouvido e mostrar lhe a língua quando ele discordava de algo, criando uma esfera alegre ao nosso redor enquanto andávamos pelo shopping aparentemente vazio...
Digo aparentemente porque não demorou muito para o vermos...

~~ Vaga ~~

Ele riu, um riso aparentemente sínico como quem pensa em dizer algo ofensivo mas deixa de lado. Eu apenas o olhei, mas, dentro do carro era iluminado apenas pelas luzes do painel, insuficientes para eu poder vê-lo perfeitamente, então, apenas ri baixo e apoiei-me melhor no banco da lamborghini.
"Acho que ficamos sem almoço."
Ele riu mais uma vez, de fato, sem luz, não nos restavam muitas opções de restaurante, demorei um pouco até pensar no restaurante japonês que havia ali, era caro, e eu sequer sabia se ele gostava de comida japonesa, ainda sim, eu sugeri.
Ele demorou-se um pouco, parecendo pensar na hipótese, acendendo os faróis da Lamborghini e guiando-a cuidadosamente pelos corredores de carros até encontrar duas, uma ao lado da outra, parando no meio das duas para evitar qualquer tipo de problema causado pelos demais motoristas.
Não o culpava, o carro era belo demais para ser riscado ou amassado, não se podia confiar em "outros motoristas" e de fato, as vagas eram muito apertadas.
Ele então apagou os faróis e deu um suspiro.
"Não tenho nada contra restaurantes japoneses não... Mas, não quer esperar? Quem sabe o blecaute acabe e eu possa te levar aonde estava planejando?"
Eu sorri, sem jeito, ele estava planejando? Então vai ver era por isso que deixara eu ocupar minha mente na lamborghini o caminho todo e foi quando fui virar para ele, curiosa por saber quais eram seus planos que tive algo morno e macio em meus lábios, calando-me. Não lutei, naquele escuro reconfortante não haveria mal algum certo?
E então, fechei meus olhos, como se isso fosse mesmo necessário, retribuindo, deixando que a Lamborghini ocupasse o espaço daquelas vagas de forma gentil, elegante e inebriantemente poderosa.

~~ Blecaute ~~

"Ah... Meu..."

Foi tudo que eu consegui dizer naquele momento, quando me esqueci de respirar e o pouco ar que havia em meus pulmões foi pouco, fazendo-me engasgar e tossir um pouco.

Ele riu, não ouvi barulho algum, mas, sabia com certeza absoluta que ele ria, me restando apenas rir sem jeito e virar-me para ele ainda boquiaberta, corada e um tanto quanto bestificada.

"Aquela...."
"Sim, é meu carro... Que bom encontrar uma mulher que o aprecie."

Por um segundo voltei a olhar a lamborghini...

"É... É linda..."
"Ela? Ah, bem, claro, pode ser feminino também..."

Ele pareceu um pouco confuso conforme eu me referia ao carro como "ela". Mas, oras, claro! A Lamborghini! Quer dizer.. O Lamborghini não ficava tão mal assim mas... Não... Carros bonitos têm de ser mulheres. E com nomes bonitos.
Talvez a idéia houvesse penetrado minha mente enquanto assistia incessantemente ao filme 60 segundos somente para apreciar os carros e óbviamente o Nicholas Cage com cara de bobo ao levar um "olé" da Angelina Jolie.

Bom, então voltando, saímos do elevador e caminhamos juntos, tal qual um casal animado, até a belíssima Lamborghini, onde ele me abriu a porta, fechando-a após minha entrada e depois andou até o banco do motorista, logo dando a partida e fazendo o motor roncar alto.
Saímos cantando pneu e soltando fumaça, já entrando na rua principal, onde diversos carros abriam caminho para que ela desfilasse rápida e elegante por entre eles.

O caminho foi silencioso, também, eu observava o interior de couro negro e branco como uma afccionada, quem dera isso fosse mentira, mas, não era, não havia como negar o meu fascínio por carros daquele porte. Antes mesmo que notasse, já entrávamos no estacionamento do Shopping mais chique, e caro, da cidade.
Não me importei, enquanto a maioria dos casais da firma gastava dinheiro pagando os melhores hotéis, motéis, restaurantes e viagens que pudessem aproveitar à dois, minha vida resumia-se ao trabalho e ao bar onde ia para ouvir a velha banda de Jazz.
Dinheiro não me era algo que faltava, ainda mais com a quantidade que ganhava, o necessário para sustentar a família inexistente que acreditávamos todos que eu teria. Mas, ele apenas sorriu ao me ver tentando ver o valor do estacionamento e guardou o cartão no bolso.

"Nada disso."

Disse ele e eu logo entendi que aquele era um daqueles tipos de convite onde o convidado nada paga. Eu sorri, que mais poderia fazer?
Logo ele foi guiando a Lamborghini para um dos subsolos, e foi quando ele terminou de descer a rampa que o barulho veio.

"PAH! Zmm! Pah! Pum! Tah!"

E logo estávamos imersos pelo mais fundo escuro causado pelo blecaute. O sol talvez pudesse nos iluminar se não estivéssemos no subsolo 4 ou mais, eu não contara, onde agora estava completamente escuro.

~~ Lamborghini ~~

E seguimos assim calmamente andares abaixo enquanto eu permanecia corada e calada com ele a me segurar pela cintura, oras, mas é claro, à cada olhada dos demais funcionários para o homem na minha diagonal eu corava mais.

Não é que estivesse desconfortável, na verdade, estava era bastante confortável, ele é muito bonito...
Cabelos castanhos claro, quase cor de mel, curtos e bagunçados levemente, olhos azuis, barba curta, unida ao bigode, ambos com não mais de 2mm. Tinha uma expressão séria, madura, sarcástica, definitivamente perigosa.
O perigo em sua presença constatou-se quando, eu notei que embora os funcionários lhe lançassem olhares curiosos, nenhum deles lhe dirigiu a palavra.

Fiquei imaginando se ele era mesma tão fatal quando eu ouvira todos do meu setor dizerem, dúvido. Um homem fatal não me seguraria de uma forma tão agradável... Ou, vai ver, era justamente por ser fatal e perigoso que eu estava gostando daquilo.
Finalmente o elevador chegou ao térreo e ele me segurou para que esperasse junto dele dentro do elevador. Tentei fugir mais uma vez, quando ele estava vazio, mas, ele me segurou novamente, apertando o botão da garagem.

"Ora, vamos de carro. Esse shopping é tão lotado de gente da empresa.. Você viu como são fofoqueiros."

Não tive como negar...
Não que eu quisesse!
Não!
Em hipótese nenhuma, mas, era obrigada à concordar que ignorar, ou melhor, fingir ignorar o patrão mor do local tão claramente, de certo, não era a melhor forma de arranjar um aumento. Concordei, claro e ele sorriu um sorriso tão prazeiroso quanto sarcástico.

"Ah! Que ótimo!"

E então, voltamos a ficar sozinhos no elevador enquanto descíamos ao mais baixo nível de garagem, aonde ficavam somente os carros dos diretores dos andares, e, quão não foi minha surpresa quando notei que metade das vagas, (óbviamente muito mais que as necessárias num prédio de somente 23 andares) estavam completamente fazias, com somente um carro no meio delas.
A estonteante Lamborghini Gallardo Nera ocupava 2 vagas, espaçosa e bela, com a belíssima pintura negra refletindo as luzes artificiais do estacionamento.

Parei na porta do elevador e olhei para ele.
Me pretendia levar à algum lugar "naquilo"?
Naquele carro eu iria até o inferno ou mais longe... Para onde ele quisesse.

~~ Andar ~~

Bem, então... Veja bem...
Foi assim que comecei a minha explicação quando o homem diante de mim, já dentro do elevador me encarou.
Ele me olhava de cima abaixo como se avaliasse se minha vestimenta era mesmo adequada ao horário de trabalho, e não demorou muito à frase vir.

"Você fica bonita assim."

Veja bem, chefe, eu estou em meu horário de almoço e.. Quê?!?!??! O lado bom disso tudo é que quando abri os lábios só cheguei até a parte do chefe, onde então sorri um sorriso bobo como um cão a ser acariciado pelo dono e deu uma risadinha baixa.

"Muito Obrigada."

Ele ria, provávelmente notou que eu iria me explicar quando era desnecessário.
A porta do elevador abriu e eu já ia saindo, desconcertada, quando ele segurou em minha cintura e me puxou de volta, de forma sútil, apesar da força dele e de forma quase imperceptível. Demorei a entender o porquê.

"Acalme-se, só descemos 1 andar, se está indo almoçar, creio que vá descer no térreo, certo?

Porque não almoça comigo?"
Eu fiquei paralisada por alguns segundos, pensando se tudo aquilo era real, era difícil o dono da empresa aparecer nesse prédio, eu nunca o havia visto pessoalmente, aquilo era mesmo impossível...
Mas, não era, vi claramente que não quando o grupo do andar de baixo entrou no elevador e ficou a admirar a presença onipotente do homem atrás de mim, que não havia ainda largado minha cintura.

Eu merecia, certo?

Afinal, sempre fora uma ótima funcionária, e.. Bem, aqueles dois da sala ao lado da minha iriam chupar bem todo o orgulho deles ao me ver andando com o dono da empresa certo?
Então nem pensei mais, virei meu rosto ao dele com o mais belo dos sorrisos que pude desembolsar e fiz que sim com a cabeça, sussurrando baixo um "Claro!" à ele.

~~ O Dono ~~

Após muito custo e muito ignorar, eu finalmente consegui.

Horário de almoço, hora de arrancar a parte de cima do terno, abrir 2 ou 3 botões de minha blusa social e sair para desfilar no shopping que ficava ao lado do trabalho com aquele decote impressionante e natural que eu tinha.

Claro, não vou negar, ele, junto de minhas coxas e.. Bem, minhas curvas, se vocês cá me entendem eram as coisas das quais eu mais me orgulhava na vida e por um motivo bem simples: Elas eram lindas.
E pouco me importava se o cara da sala ao lado não estava interessado nelas, pois eu tinha muito bem quem se interessasse!
E assim foi, sem perder tempo, me lancei da cadeira, sai da minha sala, fechei a porta e andei até o corredor, já sem a parte superior do terno feminino, apenas ainda com minha camisa social fechada.

Desfilei pelo corredor com o auge de minha auto-estima, rosto elevado, nariz empinado, seios mostrando do que eram feitos e num segundo todo o mal-humor tinha passado quando senti todos os outros homens do departamento quase caindo de suas cadeiras ao me ver passar, mas, mal sabia eu, ao sair de minha sala o que me esperava ao entrar no elevador, quando entrei e olhei para o lado lá estava ele...
Seguindo a ordem dos dominós, o mais alto e maior deles...
O dono da empresa.

~~Caneta~~

Bem, mas que importa? Durante todo esse período que lhes datei ainda não eram sequer 11 da manhã! 10:24, exatamente 10:24, foi a hora em que me joguei na cadeira e pude ouvir claramente o barulho de algo quebrando.

CRECK!

Quando olhei, advinhem o que era? A minha caneta, a única que tinha uma tinta boa e que não secava vez sim, vez não, estava caída debaixo da rodinha da cadeira e agora, partida em duas.
Pois eu juro que minha vontade foi levantar, pegar a caneta e enterrá-la no meio dos peitos de vaca da mulher que estava arreganhada na mesa da sala ao lado, acontece que, óbviamente, eu sou uma mulher pensante, demais, e apenas peguei a pequena caneta partida em duas e joguei dentro da minha bolsa.
Sabe, aquela caneta era bastante importante, de certa forma, mas, isso não importa, ela agora estava estilhaçada em algum lugar no fundo da minha bolsa, juntamente com o chiclete que eu jamais mascarei, uma vez que já devia ter perdido o gosto... E o batom que nunca mais usarei, uma vez que já perdera seu sentido...

~~A mesa ~~

Bom, acontece que.. Bom, você já tentou se jogar numa cadeira giratória de rodinhas? Não dá certo. Quando apoiei a mão num dos braços dela para poder cair sobre ela a filha da mãe girou e saiu rodando e eu fui beijar direto e reto o chão.
Sabe, a mulher da limpeza de lá é muito relaxada, ainda dava pra sentir o gosto do produto, ela não passou o pano direito... Bom, voltando, acontece que esse foi a volta à realidade.
Quando eu me levantei e comecei a ajeitar a minha saia o deus grego, digo, "ele" entrou e claro, viu muito bem minha calcinha negra... Apesar de tudo ele disfarçou educadamente, perguntou se eu estava bem e saiu mais que rápidamente após a resposta.
Mas sabe, eu achei que tinha sido um tanto quanto rude com ele, já que ele havia entrado para me perguntar se eu estava bem, então, sai da minha sala e entrei na dele, foi então que o meu dia mostrou o quão malignamente ele havia sido arquitetado.
Quando entrei encontrei aquele mal-caminho-todo agarrado nas coxas da chefona do setor, não somente do meu andar, mas, de todo o prédio. ela, de pernas abertas, saia levantada, blusa aberta, ele entre suas pernas, calça arreada, suor escorrendo pela nuca.
Olhei a cena e então, antes que fizesse demasiado barulho, sai da sala, voltando à minha.

Era óbvio que aquele homem não podia estar destinado à mim não é?

Mesmo meu marido, um baixinho de olhos castanhos, cabelos castanhos, barriguinha de pizza, e sorriso sem sal tinha uma outra mulher.. Por que é que aquele poderia ter sido meu, não é?
Joguei-me então na minha cadeira, e virei a cabeça para trás, fechando os olhos, aquela cena chocante ainda habitava os meus pensamentos.

~~Cadeira Giratória~~

Bom, logo que o elevador parou no 5º andar o rato, digo, presa, digo, homem, isso, homem, desceu correndo do elevador sem sequer olhar para trás, claramente, eu, usava de toda a minha capacidade para segurar o riso.
No 8º andar descemos eu e minha chefe, juntas, cada uma indo para um canto, caladas, afinal, eu sabia de seu segredo, porém, ela não era do tipo de pessoa que é fácil de acreditar estar perdendo a cabeça com um rato, digo, homem, daquela estatura.
Acontece que logo que virei no corredor de minha sala, algo como um raio de sol em dias de chuva, um oásis no meio do deserto, vida no meio do cemitério, bom, qualquer outra coisa que seja literalmente a visão da esperança, cruzou meu caminho.
Alto, loiro, olhos verdes claros, um sorriso cativante que foi como se meu impulso de mulher subisse em minha garganta, me sufocasse e apenas após me deixar sem rumo controlar-se de novo. Realmente, eu perdi o rumo, virei no corredor e minha porta não abria, e foi apenas após me segurar nela para não derreter enquanto tentava abrí-la que o deus grego, digo, oásis, digo, anjo, digo, visão, digo, maravilha, digo, milagre, digo, ah, "ELE" veio por trás de mim com sua voz mansa e gostosa dizer baixo enquanto me tocava nos ombros que aquela não era a minha sala e sim a dele. Sim, a Dele, virei pro lado errado e quase invado a sala dele, mas, a sala não importava a questão se resumia ao: "Tem um deus grego no escritório do lado, gzuis' me abana." Pois bem, virei rápidamente de frente para ele, ainda apoiada na porta, suando frio, quando ele afastou-se e cortêsmente me abriu a porta do meu escritório, onde já de pernas bambas joguei-me sem sequer pensar duas vezes, fechando a porta enquanto ainda estava no ar antes de cair na minha cadeira de rodinhas e giratória.

~~Elevador~~

Pois bem, dirigi até a empresa e sai do carro, onde aquele segurança que já havia visto meus seios me encarava.
Não, eu não mostrei meus seios para ele, apenas que quando entrei no carro num dos nossos dias de "inferno", quero dizer, "inverno", abri os botoes da camisa e liguei o ar-condicionado para me resfriar um pouco, pois bem, o maldito brotou na frente do meu carro do nada com cara de lobo com fome.
Claro, larguei ele com cara de lobo e fui embora "trabalhar". Mas, voltando ao dia de hoje, o que aconteceu é que logo que sai do carro ele já veio se oferecer para levar o meu carro. Joguei a chave para o motorista que estava do outro lado da garagem e nem falei ou olhei para trás.

Mas, foi aí que começou.
Logo que apertei o botão do elevador, a porta se abriu, e quem é que estava lá dentro para a minha surpresa?
Pois bem, minha "amada" chefinha alemã de 2metros, loira, com cara de Orc e olhar fuzilante. Porém, é claro, dei o sorriso mais amigável que pude encenar e entrei.
Era estranho, ela não retribuiu, e foi só quando entrei no elevador que notei o porquê.
Quando virei-me, pude ver o chefe do outro departamento, um moreno baixinho com cara de rato todo arranhado e com marcas de batom no rosto e no pescoço. Claro, a alemã conseguiu esconder bem o que havia feito, ele, porém, rato como era, não.
E assim comecei minha jornada de trabalho, fechada no elevador junto de minha chefe e sua "presa".

~~ Terno ~~

O dia definitivamente começou ruim. Ou péssimo... Ou pior. É, não se tem bem como definir o quão terrível foi.
O fato é que logo que abri a porta de casa dei de cara com a vizinha!
Cá entre nós, não gosto dela, e não é nem que simplesmente não goste, mas, ela parece saber que sei que meu marido sabe que eu após o trabalho "trabalho" como ele.
bom, pois bem, ignorei a velha. abri a porta do carro, me lançei pra dentro dele, dei a partida e após andar poucos quarteirões.

PIMBA!

Começou o apitinho estridentedo maldito carro avisando que ficaria sem gasolina em breve.
Pois bem, levei um susto e parei no posto mais próximo onde eles somente tinham gasolina comum. Encarei a menininha que me atendia que com um sorriso desconcertante alegou que estavam realmente sem gasolina aditivada.
Não, eu não tenho nada contra a dita cuja atendente, apenas contra o posto que não tem a gasolina, mas, pois bem, não perdi tempo com isso, coloquei a maldita gasolina normal e voltei a dirigir, quer dizer, a ficar parada no trânsito, como em todas as manhãs.

~~ Olhos.~~

E os barulhos dos tiros zuniam em meu ouvido até que, de súbito me projetei para a frente e abri os olhos.
Olhou ao redor e estava mais uma vez de volta à minha cama. Meu marido já havia levantado, provávelmente ido encontrar a amante, digo "trabalhar".
São assim que os homens dizem, certo? "Trabalhar". Pois bem, meu marido levantou-se e foi "trabalhar" e eu logo iria "trabalhar" também, porém, o meu "trabalhar" envolvia trabalhar e "trabalhar", porquê antes de "trabalhar" eu realmente precisava trabalhar, afinal, minha chefe era uma loira de dois metros, alemã, que definitivamente não ia com a minha cara.
Então eu me levantei, deixei a cama bagunçada mesmo, afinal, mesmo que eu arrumasse quando voltasse ela estaria desarrumada, pois meu marido traria o "trabalho" para casa.
Ainda me pergunto por que só os homens podem levar "trabalho" para casa...
Mas, pois bem, levantei-me, vesti-me e saí prontamente em meu terninho feminino negro para o trabalho, para só então "trabalhar."

~~O Vermelho~~

Para nós estava claro como seria essa noite, mais uma vez encheríamos a cara, nos arrastaríamos pelas vielas tortas de nossa bela Artanha até chegarmos algum mausóléu...
Olhei então para a rua, vazia como sempre e olhei para ele enquanto servia tossas taças. Peguei a minha e virei-a num gole só. Mas que vodka forte.
Foi então que por algum motivo olhei mais uma vez para a rua e então lá estavam 5 homens armados atirando ruidosamente para dentro do bar, onde as pessoas já haviam rendido-se e sequer moviam-se, até cairem mortas.

~~ A Bebida~~ (sim, é continuação do post anterior.)

Ele sorriu e assentiu com a cabeça, tenho certeza que junto de mim pensou que nós não mudaríamos nunca.
Eu olhei ao redor um pouco desorientada, afinal de contas, não era comum sentar-mos daquela forma e não beber. Chamei o garçom, mas, logo que o mesmo veio nos atender, ele interveio. Pediu uma garrafa da vodka mais cara que tinham ali e naquele instante, mesmo antes de beber, e sem ser vidente eu tive certeza de uma única coisa: Com certeza, essa noite acabará exatamente como a anterior, porém, dessa vez, com uma bebida mais cara.



















~~O Bar~~

Foi então que me sentei mais uma vez diante dele naquela mesa de bar, encarando seu velho terno negro surrado que eu mesma havia surrado na noite passada.

Olhei para as marcas de batom no pescoço dele enquanto ele encarava meus lábios com o batom borrado.Mas aquelas marcas em seu pescoço não eram de meu batom vermelho sangue.
Foi então que arrumei meu amassado vestido de cetim e apoiei-me contra as costas da cadeira, olhando-o e rindo.

"Nós Realmente Jamais Vamos Mudar, Não É?"