
~Vestido~
Toquei a chave na fechadura da porta e ouvi um gemido alto e feminino sair de dentro da sala.
"Aaaahhnnn!!!"
"Merda."
Meu marido ainda não havia terminado o "trabalho" que levara para casa...
Eu respirei fundo e olhei o que vestia. Ainda usava o doce terno que cheirava ao perfume de mogno dele. O cheiro ainda estava forte, delicioso.
Revivia minhas memórias deixando minhas pernas bambas e fracas...
Não podia ir para o velho bar de jazz daquela forma.
O terno poderia perder o perfume dele, e eu sabia que, caso ele não mais aparecesse, aquilo seria a única lembrança que teria..
Talvez doesse mais se eu mantivesse uma lembrança tão intensa viva em minha memória, porém, não valeria a pena ter vivido aquilo se eu fosse desistir por uma simples possibilidade.
Eu mergulharia de cabeça... Mesmo se fosse apenas para quebrá-la quando eu chegasse ao fim do poço.
De que valeria viver se não fosse para aproveitar todas as possibilidades ao máximo?
"Não posso te perder... Tão cheiroso... Pensando bem... Eu não posso perdê-lo de forma alguma..."
Eu abracei meu próprio corpo com carinho, acariciando o terno. E o maravilhoso perfume subiu por minhas narinas, desnorteando-me.
Olhei em volta e respirei fundo. Precisava sair dali.
Corri até a lateral da casa e entrei na garagem, com cuidado, sem fazer barulho.
O carro ainda estava ali, estacionado como de costume.
Eu me lembrava de sempre manter uma troca extra de roupa no carro, para caso fosse necessário uma escapatória rápida.
Aquele caso era de fato uma urgência, uma necessidade.
Abri a porta com muito cuidado e me deitei por cima do banco do motorista.
Puxei a caixinha localizada sob o banco do carona e tirei de dentro dele o velho vestido de cetim rubro.
Estava amassado e com um pouco de cheiro de guardado, porém, troquei-me ali mesmo.
"Perfeito... Ainda cabe."
Após vesti-lo, deixei o terno dobrado dentro da mesma caixa e saí de dentro do carro.
Sai da garagem, tranquei-a e corri para a rua mais uma vez.
E então, peguei o táxi que estava estacionado na esquina de casa e fui em direção ao velho bar de jazz.
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